Quando o Museu da Língua Portuguesa foi inaugurado em São Paulo em 2006, sua abertura foi um divisor de águas na maneira de se projetar museus no Brasil. Sua vocação multimídia mudou a forma de pensar museologia no país, criando um espaço vivo onde a memória e o futuro da língua-mãe passaram a andar lado a lado. Cinco anos depois, o governo do Sergipe terminou a restauração do prédio do Colégio Atheneu Dom Pedro II, em Aracaju, para receber o mais novo museu multimídia do país, o Museu da Gente Sergipana. Instalado no Atheneuzinho, como é conhecido o local, o museu hoje ocupa totalmente o marco histórico construido em 1926. Ali estão instalações artísticas, uma midiateca completa sobre a história do estado, uma linha do tempo que destrincha a importância história do Sergipe, animações, um hall da fama dos sergipanos célebres e um incrível labirinto de espelhos que mostra o artesanato, modos de vida, aspectos econômicos, causos e lendas da cultura local. Tudo isso torna o museu uma parada obrigatória para quem vai visitar as belezas naturais de Aracaju. Além do acervo fixo, o museu também recebe exposições temporárias em uma sala especial. Atualmente, a mostra em cartaz é Espelho Imaginário - Atlas Subjetivo de Sergipe, que chega em São Paulo no final do ano, onde será exibida no nosso Museu da Língua. “Objetos, sons, imagens e interações são utilizados para criar um amálgama de manifestações individuais e coletivas, expressões de um povo”, explica o curador da exposição, Marcello Dantas, que através desse trabalho procura apresentar um panorama geral e imprevisível das peculiaridades culturais de Sergipe. O museu fica na Avenida Ivo do Prado, 398, no centro de Aracaju, aberto de terça a sexta, das 10h às 17h, e finais de semana (sábados e domingos) e feriados, das 10 às 16h. Vai lá: Museu da Gente Sergipana
Onde: Av. Ivo do Prado, 398 - Centro, Aracaju/SE
Quanto: grátis
Informações: (79) 3218-1551
www.museudagentesergipana.com.br
Museu da gente sergipana
Trip na praia
Quer ver sua foto direto da areia na Trip de dezembro? Fotografe: Pode mandar uma foto só, duas, três, quantas você quiser. Vamos escolher as mais legais para entrar na edição de dezembro/janeiro. E o melhor: se a sua foto for publicada você recebe a revista na sua casa. Se a sua foto for muito, muito, muito legal você ganha um ano de assinatura da Trip. Importante: se você for fotografar pessoas, vamos precisar da autorização delas também, ok? Valendo! Partiu #TripnaPraia
1. O canto mais bonito da sua praia
2. O prato mais saboroso do seu feriado
3. A mulher mais bonita
5. O homem com a fachada mais bem acabada
6. O esporte mais legal de praticar no mar ou na areia
7. O maior "figura" da área
8. A casa mais legal
9. O objeto indispensável na praia
Mande foto da sua praia por e-mail: tripnapraia@trip.com.br
ou no instagram com a hashtag #tripnapraia
Ramones com sotaque alemão
Assim como o lendário CBGB, casa de shows novaiorquina aberta nos anos 70 que virou a casa da primeira onda do punk americano, o RMCM de Berlim é pequeno e apertado. Inspirado no palco que revelou grandes nomes como Blondie, Talking Heads e Television, o Museu dos Ramones em Berlim é o primeiro do mundo dedicado ao grupo punk de Nova York e recebe grandes shows em um ambiente intimista e que lembra em muito o ambiente do clube de Manhattan. No acervo do museu estão as peças da coleção do alemão Flo Hayler, que começou a juntar memorabília dos Ramones com um ingresso, uma camiseta e um poster que comprou em um show da banda em Berlim no ano de 1990. Em 2005, no aniversário de um ano da morte de Joey Ramone, ele inaugurou a primeira encarnação do museu, que ficou no mesmo endereço até 2008. Naquele ano, o espaço se mudou para um local maior e ganhou mais duzentas peças inéditas, que continuam em exposição até hoje. Na galeria existem fotos autografadas de todos os integrantes que passaram pelos Ramones em 20 anos de banda, uma mostra de camisetas oficiais, posters, flyers, baquetas, palhetas e centenas de fotografias cobrindo todas as eras e encarnações da banda capiteneada com mão de ferro pelo guitarrista Johnny Ramone. Para quem vai para Berlim e se liga na carreira dos Ramones, o museu alemão da banda é parada obrigatória. Veja nas fotos alguns dos grandes nomes que já passaram e se apresentaram no Museu dos Ramones. Vai lá: Ramones Museum: Home of the Fast Four
Onde: Krausnickstr. 23 - Berlim, Alemanha
Quanto: Museu com entrada franca (exceto em dias de show)
Informações: www.ramonesmuseum.com
Fabiano Prado Barretto
A visão de embalagens ou garrafas PET na areia é só uma pequena amostra do criminoso e globalizado problema do lixo marinho. Moradores têm sua cota de responsabilidade, é verdade, mas, em boa parte, o lixo encontrado nas praias brasileiras vem de longe. Muitas vezes, trazido por correntes oceânicas, viaja milhares de quilômetros, até aportar por aqui. “A mesma corrente que ajudou Amyr Klink em sua travessia do Atlântico também traz toneladas de lixo para o litoral brasileiro, majoritariamente para a faixa de mar da Bahia”, conta o fotógrafo Fabiano Prado Barretto, que fundou em 2003 a Global Garbage, ONG patrocinada pela Lighthouse Foundation da Alemanha e que hoje mantém uma série de projetos e ações dentro e fora do Brasil, todos voltados para minimizar o impacto do vasto rol de dejetos que é genericamente chamado de lixo marinho. A sujeira na areia é apenas o mais flagrante entre os danos. O lado mais cruel talvez seja a morte anual de centenas de animais marinhos por conta da ingestão de sacos plásticos ou embalagens confundidas com algas, lulas ou outro alimento. Não há censo oficial dessa carnificina e a real causa da morte só é conhecida por meio de uma autópsia, o que raramente ocorre. Mas, para se ter uma ideia, segue a lista de mortes noticiadas pela imprensa em outubro último e cuja causa tenha sido comprovadamente o lixo marinho: na Praia Grande (SP), dez tartarugas-verdes não resistiram à ingestão de objetos plásticos; duas outras apareceram mortas em João Pessoa (PB) e mais duas em Icapuí (CE); um golfinho surgiu morto no Piauí, com objetos no estômago. E, por muito pouco, 3 tartarugas, 11 pinguins e 4 lobos-marinhos não se foram em Rio Grande (RS) após a ingestão de lixo – foram resgatados agonizando, para serem tratados e devolvidos ao mar dias depois. Em um registro internacional, o corpo de um cachalote de 17 metros de comprimento foi encontrado no mar Egeu, e a autópsia encontrou cem sacolas plásticas em seu aparelho digestivo. Outra preocupação é o lixo produzido nos navios em viagem. Aí entra o lado político da entidade, um lobby ambiental. Até ano passado não havia legislação detalhada sobre o lixo de barcos e navios. “O correto é a autoridade portuária conferir quanto de lixo foi produzido em cada embarcação, levando em consideração o tempo que o navio ficou no mar e o tamanho da tripulação”, explica Fabiano. A atuação da ONG junto a uma série de agentes (autoridades portuárias, Anvisa, marinha etc), ajudou na formulação da legislação inédita. O lixo produzido em navios, por lei, requer a mesma atenção do lixo hospitalar. “Imagine se um navio asiático traz dejetos contaminados com o vírus da gripe aviária, por exemplo, e esse material vai para um lixão comum. Causaria uma epidemia em poucos dias.” Em 2001, Fabiano fez uma caminhada pelo litoral norte baiano e apanhou e catalogou dezenas de embalagens de 26 países diferentes em uma faixa de apenas 10 km de praia. O trabalho foi parar até no Jornal Nacional e tornou-se a semente da Global Garbage Casado com uma alemã e morando em Hamburgo, Fabiano está preparando um monitoramento internacional do lixo marinho, conectando autoridades e informações da comunidade de países falantes da língua portuguesa. É o tipo de trabalho que foi feito no Brasil e que pode subsidiar legislações e demais atos governamentais de combate aos dejetos jogados ao mar. “Estamos virando referência internacional e levando essa discussão aonde ela não existe, como, por exemplo, Angola.” Nessa mesma frente, a Global Garbage mantém relação próxima com a Unep, órgão das Nações Unidas para a defesa do meio ambiente – Fabiano foi convidado para participar do painel da Unep na Rio+20 e sua ONG traduz livros do órgão da ONU para o português. Turismo, prostituição e folia No distante verão de 2001, Fabiano caminhava pelo litoral norte da Bahia e ficou chocado com a quantidade de lixo estrangeiro na areia. Na primeira delas, catou e catalogou dezenas de embalagens de 26 países diferentes em apenas 10 quilômetros de praia. O trabalho foi parar até no Jornal Nacional e tornou-se a semente da Global Garbage, que hoje tem atuação em Hamburgo (onde Fabiano coordena as ações globais) e no litoral baiano, aonde chega a maioria do lixo marinho, trazido pelas correntes. Com uma década de atuação, a ONG desmembrou-se e gerou filhotes como a Capitães de Areia, a Associação de Surf e Salvamento Aquático da Linha Verde e o projeto Lixo Marinho, todos sediados na Bahia. Muito da atuação desses braços é junto à comunidade local e extrapola a questão do lixo. Lá atrás, logo no começo do seu trabalho, Fabiano percebeu que os moradores e turistas brasileiros não tinham ideia da importância da participação deles nessa cadeia. “Ficavam bravos quando sabiam do lixo que vinha da Europa, mas jogavam uma latinha no mar durante um passeio de ferry boat.” Hoje esse trabalho de conscientização está avançado, chegou às escolas, rendeu frutos e diversificou-se, por exemplo, na forma de cursos de formação da população carente local. “A Onda Verde forma profissionais para o setor de turismo, evitando que esses jovens caiam no tráfico ou na prostituição masculina e feminina, muito forte principalmente perto de resorts.” Em outro campo de atuação, uma iniciativa pessoal recente de Fabiano que fez barulho foi a Fundo da Folia, em parceria com os também surfistas baianos Bernardo Mussi (campeão brasileiro de longboard em 1993) e Francisco Pedro. Nos últimos três Carnavais, o trio registrou uma montanha de latinhas de cerveja, abadás e outros dejetos que tomavam o fundo de toda a faixa de mar de Salvador nos dias de festa. As imagens correram a internet e chamaram a atenção da Ambev (que já patrocinou o Carnaval por meio da Skol e hoje o faz pela Brahma), que contratou mergulhadores para ajudar na limpeza, instalou pontos de coleta e fez acordos com associações de catadores. Pranchas na luta Em meio a essa teia de ativismo, entra o surf. Antes da Global Garbage, Fabiano trabalhou de 1991 a 2000 na União dos Clubes Escolares de Surf, a Uniclubes, que também ajudou a fundar. Lá, conheceu e viu nascer a carreira de grandes nomes do surf nacional, como Danilo Couto, Marcio Freire e Yuri Soledade. Os três moram no Havaí e são conhecidos como mad dogs por serem os pioneiros em pegar no braço ondas gigantes que, até então, eram encaradas apenas no tow-in, ou seja, com o reboque de um jet-ski. Danilo, Marcio e Yuri, além de outros expoentes baianos como Roberto Vieira e Armando Daltro, usam adesivos da Global Garbage de graça em suas pranchas, difundindo a causa. O próprio Fabiano, para combater a abstinência de mar na vida alemã, tem feito remadas cada vez maiores. Empreende longas jornadas de stand up pelo rio Elba e agora prepara-se para travessias maiores, como a entre a ilha francesa da Córsega e a italiana Sardenha. Mas não perde o foco: “Mesmo aqui tem muito lixo no mar e nos rios”.O lixo estrangeiro encontrado no litoral baiano inspirou Fabiano Prado Barretto a criar a Global Garbage. Uma década depois, a ONG é referência mundial na preservação das praias e não apenas tem salvado a vida de mamíferos marinhos e mantido areias mais limpas, mas melhorado a vida da população praieira
Resultado: Qual é a sua viagem?
Chegou a hora! Que rufem os tambores da sala cheia de gente ansiosa. que mandou essa foto aqui: @eduardobravin Foram mais de 5 mil imagens. Mais de 3.400 pelo Instagram com a hashtag #TripCi e quase 2 mil pelo e-mail. Entenderam por que atrasamos um dia para anunciar o vencedor? Não foi fácil... Teve foto de bicho, de sol, de mar, de amigos, de pés na areia, de arco íris, de balão, de coisas que não entendemos, mas a que fez a gente ter vontade de também pular no rio foi essa. Então, Eduardo, arrume as malas e decida quando quer ir, a viagem é sua! A Trip e a Ci agradecem muito a participação de todos. Valeu, pessoal! Aguardem novas viagens em breve. =)
Quem vai para Londres falar inglês com tudo pago é...Eduardo Bravin
Exposição em tempo real
Os fotógrafos Lee Strickland, William Daniels e Paul Sullivan estavam cada um em uma cidade, mas exibindo seus trabalhos juntos. Foi assim a primeira edição da exposição The Real Time Gallery, patrocinada pelo novo modelo de câmeras digitais da Sony, a NEX-5R compacta. Os três fotógrafos, espalhados por três países, transmitiram as imagens exibidas na mostra através do wi-fi embutido em suas câmeras, realizando assim a primeira exposição de fotografias verdadeiramente em tempo real. O evento aconteceu em Londres durante o último fim de semana e teve 200 fotografias exibidas em 14 telas espalhadas pela galeria. Usando fotógrafos locais de Londres, Paris e Berlim, os curadores buscaram captar a luz natural de cada uma das metrópoles europeias e quebrar a barreira do tempo em um evento dedicado à fotografia. “Eu encarei o projeto com a mente aberta quanto aos objetivos que eu queria atingir, o que fez as possibilidade se abrirem maravilhosamente", explicou Lee Strickland, fotógrafo que estava registrando as imagens na capital britânica. “Isso permitiu que eu fosse livre com minha criatividade e me levou aos locais de ação da cidade, permitindo que eu mostrasses para as pessoas um senso de jornada através dessa diversa capital que é Londres. É incrível o que você consegue perceber quando vê as coisas de perto." Na galeria você vê algumas fotos da primeira exposição fotográfica em tempo real da história. Abaixo você vê o vídeo de cobertura da festa produzido pelo pessoal da Sony. Para ver as fotos de Paris, Londres e Berlim que integraram a exposição, dê uma passada nos álbuns do Facebook listados abaixo: Vai lá: Real Time Gallery Berlim / Real Time Gallery Londres / Real Time Gallery Paris
Rolê pela ilha
De pé em cima de canoas havaianas, um grupo de remadores percorreu em três dias mais de 100 quilômetros do litoral paulista. Foram os participantes da 1ª Expedição de Stand Up Paddle Volta à Ilhabela, realizada entre 23 e 25 de novembro. O evento foi organizado por Edílson Assunção, o Alemão de Maresias. “Foi a primeira vez que uma equipe de SUP deu a volta pela costa de Ilhabela. A aventura rolou em três etapas: da largada no píer do Engenho D’Água até a praia do Bonete, de lá até a praia do Eustáquio, na baía dos Castelhanos, para então voltarmos ao píer”, explica o surfista de ondas grandes. Um total de 22 remadores – entre amadores e profissionais – participou do evento. “Na etapa inicial, todos remaram, pois lá as águas são tranquilas. Já na etapa da Ponta do Boi, no extremo da ilha, o mar estava agressivo, com ondas de até quatro metros. Ali, só seis atletas chegaram até o fim”, conta Alemão. Segundo o surfista, o evento busca levar conscientização ambiental aos moradores da região. “Queremos chamar a atenção para o lixo marinho que se acumula no litoral. A ideia é que, nas próximas edições, a gente vá com um barco de apoio maior para recolher os detritos pelo caminho.” Vai lá: http://tinyurl.com/ce6l2qc
Caranguejada Noturna
Divulgação Vira Verão
Nas noites de quinta-feira, a praia do Futuro, em Fortaleza, se transforma em palco de uma inusitada mistura que envolve forró, piadas e crustáceos piauienses. É o dia da famosa caranguejada, tradição gastronômica que começou na barraca do Chico do Caranguejo em 1987. “Os caranguejos chegavam do Piauí às quintas e era um jeito de comemorar com os bichos fresquinhos”, explica André Brauna Santos, subgerente do local. Com o tempo, o evento ganhou acompanhamentos pitorescos: grupos de forró pé de serra, cantores genéricos de MPB e comediantes. Afinal, os caranguejos podem não ser locais, mas as piadas são 100% cearenses.
Tudo Azul
Divulgação
Praia do Tombo, no Guarujá (SP)
A Prainha, no Rio de Janeiro, é o mais novo local do litoral brasileiro a hastear a bandeira com o selo de qualidade ambiental
Reduto do surf carioca, a Prainha vai receber este mês a Bandeira Azul, certificado concedido pela Foundation for Environmental Education, ONG europeia que promove o desenvolvimento sustentável. No Brasil, só a praia do Tombo, no Guarujá (SP), e a Marina Costabella, em Angra dos Reis (RJ), possuem o selo. Leana Bernardi, coordenadora nacional do programa, fala sobre ele.
Como é a avaliação? A praia deve ser inscrita no programa. Eu visito o local e faço uma avaliação.
A praia pode ficar dois anos para adequar-se aos 33 critérios do programa, divididos em educação ambiental, segurança, gestão e qualidade da água. Em seguida, o documento é enviado ao júri nacional, composto de Ministério do Meio Ambiente, Ministério do Turismo, Secretaria do Patrimônio da União e ONGs ligadas a praia, para então ser enviado ao júri internacional.
Quando a bandeira foi criada? Em 1985 na França. Hoje está presente em 48 países e já foi concedida a 3.850 praias e marinas.
Qual foi a primeira praia brasileira a receber o selo? Jurerê Internacional, em Florianópolis, em 2009. O certificado foi renovado em 2010, mas depois foi retirado, pois ela não manteve o padrão necessário.
Vai lá: http://tinyurl.com/ahu2wmc
Lado B da areia
Que nem toda praia é igual todo mundo sabe, mas o inusitado de algumas vai além. Quer umas férias diferentes? Escolha seu destino entre nossas sugestões abaixo e boa viagem. Ou não
Visita à Bessarábia
Hilo Chen
A arte de Hilo Chen
No vilarejo onde nossos avós nasceram, meu primo e eu caminhávamos e ele tirava fotos. De repente, um senhor se aproximou de maneira agressiva. Botava a mão no bolso da calça como alguém que ameaça sacar uma arma
No mês passado eu e meu primo Edú resolvemos cumprir um velho sonho comum: conhecer Sokyryany, vilarejo na Ucrânia onde nossos avós nasceram e viveram até meados da década de 1920, quando emigraram para o Rio de Janeiro. Até o fim da Primeira Guerra Mundial, a região onde fica Sokyryany se chamava Bessarábia e era uma província na periferia do Império Russo – uma terra pobre, desolada e cinzenta, para onde a Imperatriz Catarina, a Grande, expulsou os judeus, em 1791. É lá que ficava a fictícia Anatevka, onde se passa a história do musical O violinista no telhado.
A Bessarábia foi palco das maiores tragédias da história da humanidade: Primeira Guerra Mundial, guerra civil soviética, morte em massa causada pela fome sob a ditadura stalinista e Segunda Guerra Mundial. Pode ser que exista, mas no momento não consigo imaginar um lugar mais fodido. No voo para Kiev nos perguntávamos o que esperávamos encontrar por lá. Não era nada de específico ou tangível. Queríamos encontrar algum vestígio do mundo desaparecido dos nossos avós, algo que pudesse explicar um pouco sobre quem somos. De concreto, só imaginava ir a um mundo com cheiro de pepino em conserva misturado com cheiro de canja de frango e livros velhos. O mesmo cheiro da casa dos meus avós.
(Abro um parêntese para dizer que a Ucrânia tem a maior concentração de mulheres gostosas do mundo. Pode-se enlouquecer andando pelas ruas de Kiev, lotadas de lindas loiras altas, magras, mas surpreendentemente curvilíneas! Foi com toda razão que os Beatles cantaram “Well, the Ukraine girls really knock me out” na canção “Back in the USSR”.)
Foram sete horas de viagem de Kiev até Sokyryany, atravessando plantações de repolho e fábricas soviéticas abandonadas que lembravam Chernobyl. Nos perdemos tentando em vão decifrar placas em alfabeto cirílico e nos confundindo com as indicações de camponeses mal-humorados com a expressão triste de quem passou a vida carregando a cortina de ferro nas costas.
Chegamos à tarde no que parecia ser a praça principal do vilarejo. Os habitantes pareciam confusos. Hesitavam em nos cumprimentar, nos olhando de forma quase hostil, querendo entender o que estrangeiros podiam querer ali. Mas, caminhando pelas ruas, nos distraímos reconhecendo as casinhas de madeira já vistas em álbuns de fotografia. As velhinhas que caminhavam com lenço na cabeça pareciam nossas avós. Meu primo começou a tirar fotos.
De repente, um senhor se aproximou de forma agressiva. Com ar de colaborador nazista, começou a agarrar a câmera do meu primo. Ele gritava, mas não entendíamos o que queria. Botava a mão no bolso da calça como alguém que ameaça sacar uma arma. Uma pequena multidão se formou em volta de nós. Olhavam a cena com indiferente curiosidade. Queríamos reagir, mas sentimos que, se déssemos porrada no maluco, podíamos ser linchados. Em nossas cabeças, mil medos atávicos foram evocados. Nossos avós saíram de lá porque foram perseguidos. Décadas depois, na Segunda Guerra, os judeus de Sokyryany foram exterminados pelos nazistas, com a ativa colaboração da população local. Minhas pernas tremiam.
Medo do outro
Perdemos a noção do tempo, mas acho que o maluco ficou uns 15 minutos berrando, atracado com o meu primo. Finalmente um senhor engravatado interveio e começou a discutir com ele. Aproveitamos para fugir de lá. Agora entendo que o encontro com o maluco e a multidão foi a epifania que procurávamos na Bessarábia. Apelidamos o incidente de mini-pogrom. É claro que aquilo não foi uma manifestação de antissemitismo – acredito que ninguém ali desconfiava que éramos judeus nostálgicos. Mas foi uma manifestação do medo ancestral que aquela gente sofrida tem do outro. Nada temo mais do que esse medo.
Voltamos abalados para Kiev numa noite gelada. Atravessando novamente aqueles intermináveis campos de repolho, senti um amor descomunal pelo Brasil, pelo calor da gente e da terra que deu boas-vindas a meus avós e que, com todos seus defeitos, me deixa sentir absolutamente em casa.
*HENRIQUE GOLDMAN, 51, cineasta paulistano radicado em Londres, é diretor do filme Jean Charles. Seu e-mail é hgoldman@trip.com.br
Por que a praia é tão especial?
Convidamos os leitores a responder com imagens e palavras a uma pergunta tão simples quanto intrigante: por que a praia é tão especial? Na galeria, as 15 respostas selecionadas entre quase 1.500 participações
26 anos de praia: Shoiti/Show It
Shoiti Hori dedicou boa parte da vida a retratar movimentos da juventude no Brasil em seu lado mais saudável e autêntico. Sem querer, tornou-se o primeiro fotógrafo profissional de praia do país. Nos anos 1980 e 90 trouxe o que de melhor havia nas areias para as páginas da Trip nos deixou em 1997. Os cliques desta página, contudo, deixam a certeza de que nosso Shoiti fez escola. Obrigado, mestre.
26 anos de praia: Toda e qualquer viagem
A Trip sempre produziu viagens pelos quatro cantos do planeta na busca pelas melhores ondas (e histórias). Essa busca foi tão longe que o esporte ganhou novos terrenos, cada vez mais inusitados. Na água doce, na areia, entre geleiras ou na pedra, onde houver um sujeito disposto a encarar um drop inédito, a revista estará lá para relatar o que sentem aqueles que expandem os limites
Boquinha Uruguaia
Há 30 anos Ipanema não tinha chuveiro, aluguel de cadeira e muito menos “choque de ordem” dificultando a vida dos vendedores de queijo coalho. Mas já tinha o sanduíche do “uruguaio”. Milton Gonzales, 65 anos, chegou ao Brasil há 32, exilado. Sindicalista ligado ao Partido Comunista, era procurado pela ditadura de seu país e passou três anos na prisão. “No Uruguai, minha praia era outra”, brinca Gonzalez, tatuagem de foice no braço esquerdo, enquanto atende clientes em sua barraca no Posto 9. O churrasco foi seu ganha-pão e conquistou clientes famosos como Chico Buarque. Aqui, ele revela a receita do sanduíche. Mas adverte bem-humorado: “Ninguém vai conseguir imitar. É que nem Coca-Cola: nunca conseguiram fazer igual”. A receita do sucesso: Pão francês O molho especial Alho
Linguiça, Frango ou Carne
Cebola
Salsa
Pimentão
Tomate
Louro
Noz-moscada
Sal
Água
Azeite
Adobo (também conhecido como chimichurri), uma mistura de temperos que Milton importa de sua terra natal
Um paraíso no Uruguai
No sudeste uruguaio existe uma praia, pequeno paraíso isolado, sem cercas, luz elétrica nem água encanada e onde só se chega a pé ou com um jipe coletivo. Trata-se de uma faixa de terra de 25 mil hectares à beira-mar, onde vivem menos de 100 pessoas e que remonta a um estilo de vida que praticamente não existe mais no ocidente. Assim é o Cabo Polonio, foco do documentário Al Polonio ¡Déjalo Ser!, dirigido pelo gaúcho Paulinho Azevedo em parceria com a mexicana Katia Morales Gaitan. Gravado em apenas quatro dias, o média-metragem está disponível no YouTube e mostra a vida dessa pequena e remota comunidade de pescadores e agricultores que atrai pessoas de vários lugares do globo atrás de paz e tranquilidade - e as mudanças de um lugar isolado que passa de repente a receber turismo. Conversamos com o diretor do filme para falar sobre o senso de comunidade do lugar, as impressões sobre a vida à beira mar, as vantagens de se viver longe das cidades e a relação entre o povo que ali vive com a terra que adotou como sua. Trip - Como você conheceu o Cabo Polonio? E qual foi a primeira impressão que você teve quando chegou? "Tem gente que nasceu lá, se criou ali e não abre mão desse tipo de vida mais calma. Mas todos estão lá porque querem. Eles não são náufragos nem alienados." Como surgiu a ideia de fazer um filme sobre o Cabo Polônio? Por que esse lugar? E assim nasceu o embrião do filme... Como foi a produção do filme? Quanto tempo levou pra ficar pronto? "É isso que encanta os moradores do Polonio: a fuga da loucura da cidade grande, do barulho, da poluição e da correria" Como foi o contato com os personagens? As pessoas de lá tem medo de que o Polônio vire um centro de turismo predatório? Depois de ter falado com tanta gente, como você vê a relação dos moradores da área com o Polônio? Vai lá: http://youtu.be/TXmnaBwjey4
Paulinho Azevedo - Eu sou de Porto Alegre e aqui no Sul muita gente viaja para o Uruguai no verão. Então um grupo de amigos meus foi passar férias no Forte de Santa Teresa, que é próximo ao Cabo Polonio. Eles acabaram passando um dia nesse lugar mais isolado e ficaram maravilhados. E então, no Reveillon de 2010 para 2011 eu resolvi ir para lá com esses amigos. Passamos 10 dias no Polonio e foram férias incríveis.
É um choque. Lá não tem trânsito, não tem luz e não tem barulho. Você só ouve a natureza, o vento, o mar e os lobos marinhos. É uma coisa muito interessante, ainda mais para quem, como eu, mora em uma cidade grande.
Quando me falaram de como era o lugar eu estava começando a trabalhar de fato com audiovisual. Na época eu estava terminando meu primeiro curta então resolvi levar minha câmera para fazer algumas imagens por lá. Mas fui sem nenhuma grande intenção de fazer um filme. Mas quando eu cheguei lá eu conheci a Katia Gaitan, uma socióloga mexicana que trabalha com documentários e que também tinha levado a câmera dela pensando em fazer imagens do lugar.
Exatamente. Até então eu já tinha conhecido alguns dos personagens que aparecem no filme. Então, com esses contatos e a conversa com a Katia, aproveitamos a oportunidade e fomos perguntar se essas pessoas topariam falar com a gente. E começamos assim. Como o lugar é pequeno, dava pra percorrer o povoado inteiro caminhando. Então enquanto meus amigos iam à praia eu e ela batíamos perna atrás das pessoas [risos]. Foi bem ao acaso que essa viagem se transformou em um documentário.
Foram só quatro dias de filmagem. A produção levou mais tempo porque o material foi para o México para que a Kátia pudesse editá-lo. Ela estava envolvida com outros projetos, por isso levamos um tempo para finalizar o filme. Filmamos nos primeiros dias de 2011 e o projeto ficou pronto agora, no final do ano passado.
Não senti essa preocupação por parte deles. Claro que teve gente que não quis falar, mas imagino que seja mais por timidez mesmo. Tentamos falar com algumas senhoras que vivem lá também, mas elas não se sentiram confortáveis para falar com as câmeras. Mas os personagens que falaram não tem o menor problema em receber as câmeras. Muitos pelo contrário. Até o Pancho, que é o dono do bar de rock que aparece no filme, disse que ficou feliz em poder falar para mostrar ao mundo que lá existe uma comunidade que quer sim ser preservada. Eles sabem da importância de documentários como esse para a preservação de pequenos grupos como o de Cabo Polonio.
Eu vejo que tem muita gente que foi pra lá simplesmente por querer ficar sossegado. Lá é um lugar de pessoas que querem fazer uma busca mais interior. Tem gente que nasceu lá, se criou ali e não abre mão desse tipo de vida mais calma. Mas todos estão lá porque querem. Eles não são náufragos nem alienados. Vivem em um lugar que pode ser percorrido de ponta a ponta em quinze minutos e onde vivem menos de 100 pessoas no inverno. É isso que encanta os moradores do Polonio: a fuga da loucura da cidade grande, do barulho, da poluição e da correria.
Sophie na Coreia do Norte
Sophie Schmidt, filha do presidente do Google, Eric Schmidt, visitou com seu pai a Coreia do Norte no início desse ano. Ambos acompanharam Bill Richardson (ex-governador do Novo México e embaixador americano para as Nações Unidas) a uma série de encontros em Pyongyang, capital do país asiático, para discutir questões ligadas à internet com autoridades locais. Ao voltar, Sophie decidiu contar como foi essa visita. A viagem foi realizada com uma delegação oficial das Nações Unidas ao país mais fechado do mundo. Portanto, foi recheada de formalidades, com cobertura da imprensa internacional e visitas monitoradas a alguns dos centros da autoridade norte-coreana na capital. Sem celulares e notebooks, eles encontraram líderes, apertaram mãos e tiveram zero contato com qualquer pessoa não-ligada ao governo do país. Ou seja, uma típica visita ao centro do poder coreano. Em um site pessoal, Sophie postou fotos e as impressões que teve sobre o país. O relato da autora é bastante direto e livre de julgamentos, e tem um lado de curiosidade acima de qualquer interesse que pudesse estar em jogo em todas essas reuniões. "Tínhamos dois conjuntos de objetivos para a viagem: um político (o lado de Richardson) e um tecnológico (o nosso). Falando como uma pessoa ligada à tecnologia, só ter a chance de falar com oficiais do país mais fechado do mundo sobre as virtudes da internet - e tê-los aparentemente ouvindo com atenção - foi extraordinário", escreveu Sophie. Na galeria desta página você vê algumas das fotos mais interessantes tiradas por Sophie em sua viagem, todas com as legendas oficiais criadas pela própria autora. Para ler a íntegra do relato dela, acesse o site Sophie In North Korea. Vai lá: www.sophieinnorthkorea.com
Jerusalém, USA
Holy Land, USA foi um parque temático cristão construído em Waterbury, estado americano de Connecticut, em 1940. Durante 44 anos ele foi uma das grandes atrações turísticas do estado, com seus 72 mil m² de área dedicada à recontar as histórias do Novo Testamento. Ali estavam réplicas de Jerusalém e de Belém, além de marcos dos grandes feitos de Jesus Cristo e lugares que aparecem nas escrituras cristãs como locais importantes na vida do messias. O parque foi fundado pelo advogado católico John Baptist Greco, que construiu o espaço para melhorar a compreensão que as pessoas da região tinha da Bíblia. Em 1984, o dono decidiu fechar as portas da Holy Land para atualizar suas atrações. Mas Greco morreu dois anos depois, sem nunca poder concluir seus planos para a segunda fase do parque. Fechado desde então, o local hoje mantém suas antigas atrações, que estão abandonadas ao sabor do tempo. Quase perdidos em meio a montanhas de mato e ferrugem estão o Jardim do Éden, o Santo Sepulcro e o palácio de Heródes e uma imensa cruz fincada no topo da colina que imita a vista do Monte das Oliveiras, na Jerusalém original. Assim, o parque virou um paraíso dos exploradores urbanos americanos, que visitam o local para fotografar e passear pelo parque abandonado. Até hoje, a secretaria de turismo de Waterbury ainda recebe cerca de 150 ligações anuais pedindo informações sobre o local. No auge da popularidade de Holy Land, que aconteceu entre 1962 e 1976, o parque chegou a receber 40 mil visitantes anuais. Veja na galeria as fotos da terra-não-tão-prometida de Holy Land compiladas pelo pessoal do Buzzfeed. (fotos por Laura Marshall, Roadtripmemories, Alex Bajuniemi e Heather Viola)
Perigo: Urubu à vista
Faz dois anos que o aeroporto de Parintins só funciona à noite. Em quase toda cidade do Amazonas, incluindo Manaus, há restrições. O motivo? Urubus. O risco aviário é comum em todo o país. “Mas no Amazonas é mais crítico. É problema de saneamento básico”, diz o piloto Ivo Viana, da Rima Táxi Aéreo.
Na região, são comuns lixões próximos às pistas. Segundo o Centro Nacional de Prevenção e Investigação de Acidentes Aéreos, em 2011 aconteceram 1.379 colisões com pássaros no Brasil. A espécie campeã foi o quero-quero (222 casos), seguida do urubu (139). Só que um quero-quero pesa 350 gramas, já um urubu chega a 4 quilos.
“Os aparelhos não detectam a ave. No máximo recebemos alerta pelo rádio”, explica o comandante Amaury Vilela. E como evitar a trombada? “No olho. Se vir um, tem que desviar.” E esclarece: “Colisões múltiplas podem ser perigosas, mas um urubu sozinho não derruba avião”. Ufa?
As viagens de um Monty Python
“No rio, as favelas crescem nos morros, assustando pessoas que moram em alguns dos edifícios mais caros do país. O artista Vik Muniz descreveu o local como uma ‘Saint-Tropez cercada por Mogadíscio’. Mas a maioria dos favelados não tem nada a ver com o crime. São trabalhadores que fazem a cidade funcionar”. Assim falou Michael Palin, famoso por integrar a trupe cômica britânica Monty Python, sobre a sua impressão do Rio de Janeiro. Desde que a série cômica Monty Python Flying Circus acabou, o ator inglês apresenta documentários de suas viagens pelo mundo. A série de TV de quatro episódios sobre o Brasil foi exibida pela BBC em outubro passado e virou um livro e um DVD. Veja abaixo toda a ginga de Palin em uma roda de capoeira. Vai lá: www.palinstravels.co.uk